“No momento que você dá a luz, você sabe exatamente o que deve fazer”.
Ouvi essa frase de uma mãe com quem trabalhei há alguns anos atrás. Na época, isso me assustou um pouco. Hoje me assusta ainda mais porque entendo o quão sufocante pode ser para uma mulher essa expectativa sobre elas.
Então, quero compartilhar com você uma história de uma mãe que passou por um momento delicado e não soube o que fazer.
Conheci Mariana (nome fictício) em uma roda de comunicação não-violenta com filhos que facilitei. Após uma conversa com o grupo sobre raiva ela me procurou.
Em particular, me contou um pouco do que a angustiava: ela tinha um filho de 08 anos, estava recém-separada, explodindo internamente de raiva pelas circunstâncias em que a separação aconteceu e descontando toda a sua fúria na relação com o filho.
Contou-me que absolutamente tudo o que a criança fazia a irritava profundamente. E que não tinha mais prazer em estar com o filho e que estava evitando lidar com isso, deixando a criança bastante tempo aos cuidados de outras pessoas da sua família.
Ela sentia-se culpada e a pior mãe do mundo por saber que era um momento delicado para o filho também, mas não saber o que fazer para cuidar de si mesma e dele naquele momento.
Ofereci uma escuta ativa e empática para ela, ajudei a nomear alguns sentimentos e perceber algumas sensações e emoções que estavam brotando. Fizemos um relaxamento. E nos despedimos. Pedi que ela não faltasse aos encontros.
Nos encontramos na outra semana e ela falou abertamente para o grupo sobre uma crise de raiva que ela teve com o filho.
Contou, muito triste, que a criança estava mostrando a ela uma dancinha que aprendeu na escola, sem querer esbarrou num móvel e derrubou um objeto que se quebrou em mil pedaços. Mariana explodiu em fúria com a situação e sequer conseguia entender a razão de ter tido uma reação tão desproporcional. Ela percebeu que o filho ficou magoado e sentiu muito por isso.
Dessa vez, ofereci a escuta empática junto com o grupo e ajudamos Mariana a usar a comunicação não-violenta no seu diálogo interno para entender o que estava acontecendo. Qual era a necessidade dela que não estava sendo atendida e estava deixando ela tão furiosa? Qual era o limite que ela estava ultrapassando?
Entre uma conversa e outra, entre um insight e outro, Mariana entendeu o que se passava. O último grito que ela deu com o filho na situação do objeto quebrado foi: “Eu não deveria estar criando você sozinha. Isso é demais para mim!”. Era essa a necessidade não atendida: ter com quem dividir a criação do filho no dia-a-dia. Era essa a dor que doía e estava se transformando numa raiva imensa de simplesmente estar ali.
Mariana não pensou que se separaria e não se sentia preparada para assumir o desafio de criar uma criança sozinha, uma vez que o pai encontrava-se bem ausente.
Ciente do que se passava internamente, ajudei Mariana a entender que nenhuma mãe deve nascer pronta. Que nenhuma mãe deve achar que não pode errar. Que nenhuma mãe tem que ser a heroína que salva o dia. Ela tem apenas que estar lá e dar o seu melhor.
Fortalecida nessa verdade e mais conectada às suas necessidades e limites, Mariana foi cuidando dos seus sentimentos conflitantes e abrindo espaço interno para poder acolher o filho também.
Mariana que não era perfeita e não sabia o que fazer. Que precisou de um tempo para lidar com tanta mudança. E que hoje sente-se super confortável em ser a mãe do João.
Mariana que pensou que comunicação não-violenta com filhos era um espaço apenas para entender como praticar com a criança pra resolver conflitos, pôde vivenciar a potência que é conseguir cuidar desse nosso diálogo interno de cada dia dentro de uma cultura de paz e educação dos sentimentos.
Desejo que você também passe por essa experiência. Todo mundo deveria ter essa oportunidade na vida. É transformador.
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Muita gratidão por todas essas histórias e dicas que vocês compartilham. Que recebam sempre em dobro <3